Com o seu corpo ainda enrolado ao meu, prostrados, olho-a. No ar ainda se misturam os nossos cheiros. Um aroma inconfundível, único; cheiro de foda. Enquanto a olho, penso na primeira vez que a vi.
Uma beleza natural. Cabelos loiros, muito longos; olhos meigos; expressão afável. Uma criatura de aspecto seráfico, de bem. Uma criatura pura. Linda.
Aos poucos, e perante os meus olhos, vai-se tornando noutra coisa. Os nossos encontros estão a pervertê-la. Lenta e gradualmente, mas de forma definitiva. Mesmo mordendo-a eu delicadamente… Aparentemente, não importa a violência da dentada. O resultado será sempre o mesmo; está condenada.
Transporta agora com ela a minha maldição. Não é aparente, ainda, mas está lá. Vejo-a nos olhos por detrás dos olhos; na cara por detrás da cara. Em pouco tempo, será uma criatura das trevas. Danada. Um anjo caído, para as profundezas do abismo. Para aqui, onde me encontro.
Não sinto remorso. Não sei sequer o que isso é. Olho-a em desgraça com frieza. A frieza de uma criatura sem coração. Retiro prazer do que lhe faço, das expressões que lhe induzo. Expressões que revelam mescla de surpresa e prazer. Surpresa pelo gozo retirado da quebra dos seus limites, dos seus pudores.
Olho-a, e penso: ainda agora comecei…