terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Epílogo


Magnífica, sublime, em meus braços jazes. Entendo agora, ao olhar-te, porque não me detive; porque te sorvi tão avidamente, até à exaustão.

Desenfreado, sôfrego, alimentei-me. O que te extraía era simplesmente delicioso: era único! Vida corria-me nas veias; pulsavas em mim… Empolgado, distraí-me, e retirei-te mais do que podias dar, exaurindo-te. O pouco que te resta é para ti. Agora, já não me podes saciar.

Por fim, o desfecho fatídico, inevitável. Ao constatá-lo, soltei uma lágrima; solitária. A última... e com ela esvaiu-se-me a humanidade.

Terá sido Amor? Não certamente. Não conheço esse sentimento tão louvado, tão nobre, tão pleno... Como poderia? Sou uma criatura vil. Tudo de puro me é alheio.

“É abuso que Plutão amasse Proserpina;
Em peito tão cruel nenhum desvelo atina:
Reina na terra amor; no inferno isso é que não.”

(Como cantado por Pierre de Ronsard)

Soneto da separação

"De repente do riso fez-se pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente."

Vinicius de Morais