terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Epílogo


Magnífica, sublime, em meus braços jazes. Entendo agora, ao olhar-te, porque não me detive; porque te sorvi tão avidamente, até à exaustão.

Desenfreado, sôfrego, alimentei-me. O que te extraía era simplesmente delicioso: era único! Vida corria-me nas veias; pulsavas em mim… Empolgado, distraí-me, e retirei-te mais do que podias dar, exaurindo-te. O pouco que te resta é para ti. Agora, já não me podes saciar.

Por fim, o desfecho fatídico, inevitável. Ao constatá-lo, soltei uma lágrima; solitária. A última... e com ela esvaiu-se-me a humanidade.

Terá sido Amor? Não certamente. Não conheço esse sentimento tão louvado, tão nobre, tão pleno... Como poderia? Sou uma criatura vil. Tudo de puro me é alheio.

“É abuso que Plutão amasse Proserpina;
Em peito tão cruel nenhum desvelo atina:
Reina na terra amor; no inferno isso é que não.”

(Como cantado por Pierre de Ronsard)

Soneto da separação

"De repente do riso fez-se pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente."

Vinicius de Morais

domingo, 1 de novembro de 2009

Por vezes,


e apesar de acompanhado, sinto-me só.

Falam-me, mas não os escuto. Em vez disso, ouço ecos de palavras que não são ditas; contemplo reflexos do que não se vê; delicio-me com fragrâncias de quem ali não está.

Num instante, viajei; do que me rodeava nada resta. Encontro-me em campo aberto, em local desolado; nada nem ninguém por perto. Estou sonhando acordado. Sonho com o que foi e com o que será, ou com o que espero que venha a ser; uma cornucópia de passado e de expectativa de futuro; realidade e invenção, emaranhadas…

Estou no centro de um turbilhão de emoções. Emoções reminiscentes, reais e imaginárias, muitas vezes contraditórias; deliciosamente contraditórias. Um temporal que vem de dentro; avassalador. Estou no meio da tormenta, e sorrio.

O que vejo, o que sinto… é meu. Incompreensível para os demais; mesmo que quisessem… por muito que tentassem…

Por vezes, e apesar de acompanhado, estou só. Orgulhosamente só. E penso para comigo: “I am the last of my kind.”

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Autoridade

Segundo a opinião de alguns líderes natos, a melhor forma de exercer autoridade é não recorrer a atitudes autoritárias. Para recolher obediência, dizem, é preciso saber pedir. É necessário fazê-lo com arte, para que se torne impossível recusar.

Reparem só como se pode exercer autoridade num imortal.

Ela: Olá, como estás?
eu: Não-vivo, claro. E tu?
Ela: Estou bem. Há algum tempo que não conversamos. Temos que combinar um encontro.
eu: Sim, um dia destes.
Ela: Hum…
eu: Hum… ?
Ela: Sim. Estás a esquivar-te.
eu: Não, não estou. Apenas não considerei a hipótese de teres urgência em ver-me. Além disso, ando esmagado com trabalho… Está mesmo tudo bem contigo?
Ela: Sim, está.
eu: Então, que se passa?
Ela: Estou mesmo a precisar de uma boa foda.
eu: Ok. Quando?


Mesmo que quisesse, não poderia recusar, pois não?

terça-feira, 26 de maio de 2009

Para Ti, mulher

"A flor que és, não a que dás, eu quero.
Porque me negas o que te não peço?
Tão curto tempo é a mais longa vida,
     E a juventude nela!

Flor vives, vã; porque te flor não cumpres?
Se te sorver esquivo o infausto abismo,
Perene velarás, absurda sombra,
     O que não dou buscando.

Na oculta margem onde os lírios frios
Da infera leiva crescem, e a corrente
Monótona, não sabe onde é o dia,
     Sussurro gemebundo."

Ricardo Reis

domingo, 19 de abril de 2009

A Viagem

“Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos.”,
Ensaio sobre a cegueira, José Saramago


Poucos têm a coragem de enfrentar o que são. De olhar, demoradamente, para o seu âmago. Em tempos não muito longínquos, o vivo que me transporta empreendeu essa jornada. Viajou para dentro de si mesmo.

Bem… pensando melhor, não foi empreendimento seu. Antes, foi atirado pelas circunstâncias do momento. Mas descrever-vos-ei essas circunstâncias, e os acontecimentos que as criaram, noutra ocasião.

Dizia eu que, em tempos não muito longínquos, o estropício viajou para dentro de si mesmo. Lá, nas trevas, oculto, encontrou-me a mim: tenebroso; vil. Horrorizado, iniciou a sua Cruzada; a sua busca por redenção. Encetou a contenda contra mim: eterna e, porém, fútil. Uma luta desesperada. Ainda não me entregou a alma, apesar de já ser minha.

O seu espantado horror não se compreende. Eu sempre lá estive. Desde o instante em que foi arrancado do ventre de sua mãe. Arrancado, porque resistiu. Como se adivinhasse que, com ele, também eu viria ao mundo. Resistiu. Como se soubesse que eu estaria sempre lá, envenenando-lhe o sangue; corrompendo-lhe a alma.

A sua resistência deixou as marcas do cirurgião no corpo da progenitora. Evidências do seu instinto pré-natal. Evidências de mim. Mas, durante anos, escolheu não as ver. Um poltrão, asseguro-vos.

A sua percepção da minha existência deveria ter surgido numa das inúmeras oportunidades que lhe dei. E manifestei-me tantas vezes… Contudo, a sua covardia convenceu-o de que se tratavam apenas de actos causados pela ingenuidade da juventude; que eram desprovidos de maldade.

Mas quando deixou de conseguir atribuir os meus actos à sua ingenuidade… estremeceu. Olhou, e viu-me. Percebeu então que trazia dentro dele, desde o início, uma coisa: Eu. Só que, essa coisa, ao contrário de outras, tem nome.

As atrocidades que me tornaram infame são as menores que cometi. Produziram muitas mortes, de facto. Todavia menores porque, desde então, tenho sido ainda mais abjecto: tenho feito muitas vítimas, sem as matar; mas corrompendo-as, condenando-as.

Eu sou a coisa dentro dele. Sou o destino inesperado da sua viagem. Sou Vlad Drãculea.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Ego

nome masculino
1. o ser enquanto entidade consciente
2. auto-estima

(Do lat. ego, «eu»)


Recentemente deparei-me com os seguintes números, relativos à população mundial.

Estima-se que existam 6,773,355,723 humanos (à data de 14 de Abril de 2009, 23:40 GMT). Mesmo já sendo tantos, os nascimentos ocorrem a um ritmo alucinante. É incrível. Só desde que comecei a escrever este texto, nasceram mais 516. São 4,3 nascimentos em cada segundo! (fonte: U.S. Census Bureau)

Mas ainda há mais. A estimativa do número total de humanos que alguma vez nasceram está próxima dos 106 biliões. Notem bem: 106,000,000,000 (fonte: Population Reference Bureau). São, de facto, números assombrosos.

A fazer fé nestes números, sou minúsculo. Sou apenas um de entre os muitos que são ou alguma vez foram.

É curioso, mas não me sinto assim, tão pequeno (mesmo até que o seja). Em vez de pequeno, sinto-me único. Sinto-me eu. Visto pelos meus olhos, sou o centro do meu universo. Tudo gira em torno do meu gozo, das minhas necessidades, da minha malvadez. Tudo gira em torno de mim.

Talvez seja por isto que estou imune às muitas das maleitas que afligem os vivos… (mas aqui já estou a divagar)

Voltemos ao assunto. Dir-me-ão alguns: Que outra coisa se poderia esperar de um ser diabólico? De uma criatura danada? Claro que uma criatura assim só pode ser egocêntrica.

Para os alguns, não tenho respostas. Tenho, antes, a seguinte reflexão.

Parece-me estranho o significado pejorativo atribuído à palavra egocentrismo. Sobretudo quando considerado o significado da palavra que lhe deu origem: ego. Não encontro, nesta última, nada de negativo. Pelo contrário. Mas deve ser falha deste corpo sem vida …

De acordo com os vivos, é belo ser-se altruísta. Abaixo os monstros egocêntricos, clamam. Mas eu pergunto-me: não será o altruísmo uma manifestação de egocentrismo? E mais: Como se pode amar a outros se não nos amarmos a nós?

(Confissão: Escrever a palavra amar provocou-me convulsões violentas. Foi como se a luz solar me atingisse em cheio. Uma dor indescritível; lancinante.)

Eu sou claramente egocêntrico. É o meu principal traço de personalidade. Disso, não tenho dúvida alguma. Um monstro, claro. No entanto, vejam só o seguinte exemplo do meu comportamento.

Quando procuro novas vítimas, não as escolho ao acaso. Não mordo essas criaturas divinas tirando proveito de um instante de cedência de vontade, de distracção. Não. Eu quero-as em toda a sua pujança; em instantes de manifestação expressa da sua vontade.

Está bem, pronto. Admito que, por vezes, a minha percepção do seu estado de alma possa estar errada. Acontece. Mas quando avancei, pareceu-me que estavam de olhos bem abertos. (É perante a constatação de erros de percepção que o estropício do vivo ganha força)

Porquê, perguntam. Será que, afinal, uma criatura perversa como eu tem uma réstia de bondade no coração? Não, claro que não. Não tenho coração (lembram-se?). E muito menos, essa coisa a que chamam bondade.

A razão é simplesmente esta: o meu ego não o permite. Fazê-lo, seria diminuir-me. A mim, que me sinto enorme (eu sei, a minha estupidez não tem limites).

Que comportamento estranho, não é? Mas mais estranho ainda é pensar em quantos supostos altruístas poderão afirmar o mesmo.

Na verdade, nada disto me aflige. Olho para o tema com distância; com a indiferença de quem está morto. Mas penso nisso. Porque se conota negativamente este traço de personalidade? Não entendo.

Enfim... coisas de vivos.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Caída


Com o seu corpo ainda enrolado ao meu, prostrados, olho-a. No ar ainda se misturam os nossos cheiros. Um aroma inconfundível, único; cheiro de foda. Enquanto a olho, penso na primeira vez que a vi.

Uma beleza natural. Cabelos loiros, muito longos; olhos meigos; expressão afável. Uma criatura de aspecto seráfico, de bem. Uma criatura pura. Linda.

Aos poucos, e perante os meus olhos, vai-se tornando noutra coisa. Os nossos encontros estão a pervertê-la. Lenta e gradualmente, mas de forma definitiva. Mesmo mordendo-a eu delicadamente… Aparentemente, não importa a violência da dentada. O resultado será sempre o mesmo; está condenada.

Transporta agora com ela a minha maldição. Não é aparente, ainda, mas está lá. Vejo-a nos olhos por detrás dos olhos; na cara por detrás da cara. Em pouco tempo, será uma criatura das trevas. Danada. Um anjo caído, para as profundezas do abismo. Para aqui, onde me encontro.

Não sinto remorso. Não sei sequer o que isso é. Olho-a em desgraça com frieza. A frieza de uma criatura sem coração. Retiro prazer do que lhe faço, das expressões que lhe induzo. Expressões que revelam mescla de surpresa e prazer. Surpresa pelo gozo retirado da quebra dos seus limites, dos seus pudores.

Olho-a, e penso: ainda agora comecei…

quarta-feira, 4 de março de 2009

Em breve,


emergirei das trevas e caçarei. Não consigo conter esta sede… aliás, não quero.

Rogo-vos, mortais, que fechem os olhos; que os mantenham bem fechados. Não os abram. Por nada.

“Be warned.”

De olhos fechados, estarão a salvo. É que eu faço questão que me vejam chegar…

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Sexo? Sim, mas do bom!

No meu último post deixei escapar algumas das dúvidas que trago, dúvidas essas relativas ao aparente adormecimento desses seres magníficos, as mulheres. Não me refiro a todas, claro, mas apenas a algumas. Só que essas, de tão adormecidas, confundem-se com os vivos, essas coisas insonsas. Porque será, pergunto-me. Como é que criaturas talhadas para tanto, se resignam a tão pouco?

Notem que não conjecturo. Afirmo: algumas mulheres confundem-se com os vivos. Mas não o afirmo levianamente. Faço-o sim, com pesar. E com o contributo de uma constatação recente. Ei-la.

Pelo canto do olho, já não sei bem onde, vi os resultados de uma sondagem de opinião (ou lá como se chama aquilo). Quando confrontadas com a escolha de serem privadas de sexo ou privadas de internet, aproximadamente 70% das mulheres optaram por serem privadas de sexo. Não nos tirem a internet; por nada, afirmaram.

Tremendo. Em cada 10 mulheres, 7 preferiram a internet. Confesso que fui apanhado desprevenido. É que dos homens já espero tudo, mas das mulheres… Tremendo, repito. Como é que criaturas eminentemente sensoriais optam assim? Porquê? Não encontro explicação. Mas tenho uma conjectura (ou esperança, nem sei).

A pergunta está mal feita. É isso! Se lhes tivessem dito que ficariam privadas de boas fodas, a resposta seria outra. Com certeza que diriam, que se lixe a internet. O meu reino por uma boa foda, clamariam. (A propósito, o “uma” é o artigo indefinido. É que eu não sei contar fodas, daí não usar o cardinal. Mas falar-vos-ei disto noutra ocasião.)

Talvez seja isto. É que aquilo a que os vivos chamam de sexo, não o é. É outra coisa. E as mulheres sabem-no melhor que ninguém. E porque a pergunta surge no mundo dos mortais, pensaram que se referia à outra coisa; àquilo que acontece para cumprir calendário (perdoem-me, não resisti ao uso de gíria futebolística). Se é isso, dispensamos, disseram. Ficamos antes com a internet.

A ser assim, fico aliviado. Porque disso, também não quero. Sexo? Sim, mas do bom!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Pornografia, dizem

O episódio caricato que recentemente se noticiou é revelador do quão amorfo é estar vivo.

Ao abrigo de uma brincadeira carnavalesca foi criada uma réplica do famoso PC Magalhães. A réplica ostentava, no seu ecrã, nus de corpos femininos. Um cidadão, que uns diriam respeitável, apresentou queixa alegando que se tratava de exposição de pornografia em local público. Pornografia, disse. A mais bela obra de arte; o corpo da mulher.

A atoarda, vinda de um homem, não surpreende. O que surpreende é uma mulher dar provimento, ordenando a retirada das imagens em causa. É espantoso. Como pode alguém com sensibilidade apelidar de pornografia algo tão belo?

Sendo a mulher o pináculo da evolução, deveria estar imune a tais disparates. Mas não. A mulher em causa decidiu mal. E fê-lo porque usou sentimentos vindos de fora. Felizmente que se apercebeu do erro a tempo de corrigir a mão. Os sentimentos vindos de dentro prevaleceram.

Este episódio fez ressurgir em mim as seguintes dúvidas: Porque será que algumas mulheres fazem tanta questão em confundirem-se com os vivos? Estarão elas vivas também? Se estão, o que as terá condenado a tal destino?

Voltarei a isto mais tarde.

ps. Eu sei, a minha opinião é suspeita; adoro mulheres. Mas se acham exagerado afirmar que a mulher é o auge da evolução, recomendo “A Mulher Nua” de Desmond Morris.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Simplicidade

Ela: Bichinho…
Ela: Vim à tua procura.
Ela: Estou no meio dumas discussões intelectuais sobre sensualidade
Ela: e o que me apetece mesmo é sentir…
Ela: … o teu cheiro.
eu: Hummmm
eu: Que saudades que tenho…
eu: … do teu.
eu: Quero-te!
eu: Quando?

Entre imortais (classe que inclui bicharada diversa) é simples. Não reprimimos os nossos instintos. Pelo contrário, somos por eles guiados.

Porque será que os mortais complicam?

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A contenda


Existe, em mim, uma constante luta; uma contenda entre o maldito que aqui se vislumbra, e o vivo que o transporta.

Esse vivo, fraco como os demais, amaldiçoa a minha existência. Tenta anular-me por todos os meios. Ele é a minha consciência. Um inútil, portanto. Um estropício.

Apesar de fraco, consegue por vezes empurrar-me para as suas profundezas. Mas é efémero. Eu não posso ser banido. Eu ressurjo. E ressurjo… e ressurjo. Eu, sou ele. Sou a sua maldição. E ele, a minha.

Em vez de me anular, o máximo que consegue é manter-me adormecido. Quando acordo, estou ainda mais sedento. Ainda mais implacável.

As vítimas somam-se. Impassível, olho-as; alheio à desgraça que sobre elas se abateu. Sem sombra de remorso. Apesar de insensível, constato que algumas eram de facto puras. Eram...

Perante esta constatação, o fraco vivo ganha força.

“She lives beyond the grace of God, a wanderer in the outer darkness. She is vampyr, nosferatu. These creatures do not die like the bee after the first sting, but instead they grow strong and become immortal once infected by another nosferatu. So, my friends, we fight not one beast, but legions that go on age after age after age, feeding on the blood of the living.”, pensa.

Sente-se impelido a combater-me. A mim, a personificação do mal, imagine-se. Sente que tem que evitar que a minha maldição se propague, como uma praga. E que tem que fazê-lo a qualquer custo.

Só que é fraco, e falha. Vai perdendo. E porque vai perdendo, mortais, cuidem-se! ;)

ps. Um beijo para ti, minha querida Akrasia.

(a imagem da presumível vítima foi retirada de parte incerta)

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Hoje,


sinto-me mais antigo que o tempo; com a alma presa neste corpo eternamente jovem...

(imagem retirada daqui)

Expectativas

Aqui, nesta minha tumba sombria, dou por mim a contemplar o mundo dos vivos. Ao observá-lo, fico estarrecido.

Eu, apresento-me com toda a minha malvadez, mostrando a minha face terrível. Aproximo-me das vítimas com apenas um propósito: alimentar-me delas; roubar-lhes momentos, tornando-as assim uma parte de mim. Para sempre. E faço-o sem rodeios; vou directo ao pescoço.

“I am the monster that breathing men would kill. I am Dracula.”, digo-lhes.

Apesar do aparente terror que a minha aproximação inflige, detêm-se, aguardando a minha chegada. Não sei porquê, mas ficam. Aliás, anseiam que chegue. Os seus corpos contorcem-se em êxtase antecipado, pedindo que as morda. Mais! Pedindo-me que o faça com toda a minha perversidade. Que o não faça com gentileza, na tentativa de as poupar (porque tenho consciência), mas intensamente, para que eternamente as dane.

Num esforço de entender, perguntei a uma amiga porque seria. Porque deixou ela que me aproximasse, mesmo sabendo o meu desígnio. Que encanto tenho eu, afinal? Respondeu-me, inabalável: “Porque tu não és capaz de me desiludir. És exactamente o que dizes ser. De ti, espero sempre o pior. ”

Fosse eu vivo, e ficaria arrasado. Que resposta frontal, quase brutal. Ainda por cima vinda de uma mulher admirável. Mas não sou. Em vez de arrasado, senti-me esclarecido.

Os vivos criam expectativas uns nos outros e, por vezes, falham. Desiludem. A desilusão pode ser tal que ficam com a sensação que não se conhecem. Que nunca se conheceram.

Não digo que criem propositadamente falsas expectativas (alguns até parece mesmo que o fazem). Parece-me, antes, que desiludem porque se esforçam demasiado por serem o que não são. Apenas por isso. Desiludem os outros, e a si mesmos. Por isso, vivos, vão morrendo. Já eu, morto, vou vivendo.

Mas isto, claro, é visto daqui, desta minha tumba sombria; com estes olhos sem vida.

ps. Com esta mulher nunca sei quem é, de facto, a vítima. Hei-de dedicar-lhe um post com uns balbucios meus acerca dessa triste mania de chamarem às mulheres o sexo fraco

sábado, 31 de janeiro de 2009

A Música


"Come on hold my hand,
I wanna contact the living.
Not sure I understand,
This role I've been given.

I sit and talk to god
And he just laughs at my plans,
My head speaks a language, I don't understand.

I just wanna feel real love,
Feel the home that I live in.
'cause I got too much life,
Running through my veins, going to waste.

I don't wanna die,
But I ain't keen on living either.
Before I fall in love,
I'm preparing to leave her.
I scare myself to death,
That's why I keep on running.
Before I've arrived,
I can see myself coming.

I just wanna feel real love,
Feel the home that I live in.
'cause I got too much life,
Running through my veins, going to waste.

And I need to feel, real love
And a life ever after.
I cannot get enough.

I just wanna feel real love,
Feel the home that I live in,
I got too much love,
Running through my veins, going to waste.

I just wanna feel real love,
In a life ever after
There's a hole in my soul,
You can see it in my face,
it's a real big place.

Come and hold my hand,
I wanna contact the living,
Not sure I understand,
This role I've been given

Not sure I understand.
Not sure I understand.
Not sure I understand.
Not sure I understand."

Para este recanto, não poderia escolher outra. A letra diz tudo.

Um beijo para ti (e obrigado pela sugestão)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Sussurros entre desconhecidos


Ela: (maliciosa) Quero que me comas. Por detrás.
eu: (saboreando) Humm… que pedido tão… deliciosamente específico.
Ela: (entusiasmando-se) Quero que me dês palmadas. No rabo. Bem dadas.
eu: (intrigado) Não sei se me sairão… quando os nossos corpos se encostarem, não conseguirei pensar.
Ela: (esboçando súplica) Mas… preciso que me lembrem… que reprimam a minha faceta dominadora.
eu: (encostando-me) Saberás que o homem sou eu. Entrar-te-á pelos sentidos.
Ela: (respiração estremecida) …
eu: (perdido nela) De resto, não sei…

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Mulheres, esses amplificadores deliciosos

Uma amiga especial, da mesma espécie que eu, fez-me chegar o seguinte texto. Não o traduzo porque não o quero estragar. (Lamento não poder dar crédito ao autor, ou autora, mas não sei quem é.)

"Whatever you give a woman, she will make greater.
If you give her sperm, she'll give you a baby.
If you give her a house, she'll give you a home.
If you give her groceries, she'll give you a meal.
If you give her a smile, she'll give you her heart.
She multiplies and enlarges what is given to her.
So, if you give her any crap, be ready to receive a ton of shit."

Bonito, não é? A sua beleza reside no facto de fazer justiça a esses seres divinos, as mulheres. (Sim, é verdade. Sou um grande admirador. Adoro-as.)

É exactamente por isto que faço questão em lhes dar boas fodas. É que em troca, recebo fodas épicas. Daquelas de que se constroem as lendas. Não por mérito meu, claro. Mas por culpa desses amplificadores deliciosos, que melhoram tudo o que lhes é dado.

Já agora, neste post fiz questão de fazer uso de vernáculo. Não porque seja um tipo vulgar (afinal, sou imortal), mas simplesmente porque chamar outra coisa a uma boa foda, isso sim, seria obsceno.

Momentos

De tempos a tempos conheço uma mulher que me afasta da realidade. Que, apenas sendo, me empurra para o domínio da imaginação.

Ao olhá-la, não consigo deixar de sonhar em como será beijar os seus lábios. Como será saboreá-los, lenta e profundamente. Imagino-me a dedicar-lhes a atenção que parecem solicitar, perdendo-me nos seus contornos; deixando-os húmidos e palpitantes, ávidos por ainda mais atenção.

A espaços, forço-me de volta à realidade, distraindo-me dela. Tento falar-lhe de banalidades, num esforço desesperado de contenção. Quero dizer-lhe em que penso, mas ainda não chegou o momento.

A conversa de circunstância resulta, mas apenas por breves instantes. À medida que se desenrola e se vai tornando agradável, concentro-me de novo na minha interlocutora. Enquanto a escuto, observo os seus trejeitos, e delicio-me. E a realidade escapa-se-me.

Começo então a imaginar o que os seus lábios escondem: uma língua irrequieta mas contida; uma boca quente e sôfrega. Deambulo nas profundezas dos seus olhos e imagino o entusiasmo nervoso do primeiro contacto, da aproximação do olhar, da mistura das respirações ofegantes. Imagino a crescente ânsia pelo contacto corporal. Até ser praticamente incontrolável; quase sufocante.

Apesar da agitação interior, à superfície, permaneço sereno. Estou a escutá-la e a observar a sua linguagem corporal. O seu corpo terá a palavra final. Talvez me diga que me afaste, terminando assim o sofrimento criado pelo esforço imenso de ocultação dos sonhos. Porém, detecto interesse. Manifesta-se subtilmente − claro, é uma mulher − mas está lá, e fraquejo; não consigo fingir que não o vejo. Agora, dificilmente voltarei à realidade. Agora, já não me consigo distrair desta mulher. E a divagação recomeça. Divago em todos os seus detalhes, e apercebo-me: estou perdido.

Já não consigo conter o impulso de a trazer para a minha fantasia. Não quero ficar apenas com o meu sonho dela. Quero − aliás, tenho que − partilhar o que me vai na alma. Mas detenho-me enquanto me pergunto: será ela capaz?

Curiosamente, constato que a generalidade das pessoas não tem pudor no que respeita a estes devaneios. Imaginam tudo o que conseguem, e até o que não conseguem. No entanto, ou o fazem solitariamente, ou na companhia da ideia que têm de alguém, ou, ainda, na companhia de um personagem sem rosto. Isto, afirmam, não é traição. Não quebra promessas feitas. É antes, imagine-se, terapia (ou outros disparates que nunca ouvi).

Quanto a mim, sinto que sou de outra espécie. Não sei se melhor ou pior (provavelmente, esta última). Talvez eu esteja errado, e eles não. Talvez. Talvez seja eu o fraco, não sei. O que sei é que, nesta fase da minha vida, já não quero saber. Sou, e pronto.

Mas sei mais. Sei também que trago comigo um sorriso na alma, construído com momentos inesquecíveis. Momentos partilhados com aquelas que ousaram juntar-se a mim na imaginação. Momentos que não resultaram da minha imaginação com a ideia de alguém, ou da imaginação de alguém com a sua ideia de mim. São, antes, momentos em que imaginámos juntos.

De que falo eu? Realidade, ou fantasia? Não sei. Mas estivemos lá, um com o outro. Deixámos tudo o resto para trás, e sonhámos juntos. Remorso? Culpa? Bolas. O que deixámos para trás, e que retomaremos de seguida, não é sequer comparável. De que nos vale pensar nisso?

Não penso. Continuarei a construir-me com momentos destes. Não só com eles, mas também. Apenas espero que este meu ser, este meu amor em viver fantasia, não magoe os que na realidade amo.